1.3.08

O Inseto


Era verão e ele estava tomando sua cerveja gelada vendo o entreterimento barato do futebol.

Sua paz, seu aconchego, seu momento.

Depois de uma semana pisoteando os "macacos inúteis", seus funcionários, sendo humilhado pela "quebradora de pratos", sua esposa, ele finalmente poderia relaxar e esquecer um pouco do desgraçado mundo em que pertencia.
Poderia.
Um pernilongo parrudo pairava solenemente pela sala, despercebido até então. Pouco depois do primeiro assopro mágico no apito, veio também a primeira apunhalada em sua batata da perna.
-"Inseto Nojento Desgraçado dos infernos" disse ele batendo no local da picada, sem se desligar do JOGAO, totalmente vidrado e sugado pela TV.
Uma manobra ousada permitiu ao capeta alado entrar pela dobra da perna do sujeito e dar-lhe outra injeção de irritação.
- MERDA de mosquito enjoado!! esbravejou ele, colocando a latinha de lado, procurando seu altroz por breve cinco segundos sem sucesso.
Como se percebesse a irritação do Homem, nosso pequeno amigo ousou mais ainda, arriscando sua vida, abrindo a porta do inferno, beijando-o bem nas costas da mão, a que segurava a cerveja.
Todo mundo se empurrava na área, o cobrador do escanteio era um perito em colocar a bola aonde quisesse. Uma verdadeira guerra.
- Vai pra puta que pariu esse filho de uma égua desse mosquito!! Já chega!! - A cólera era visível pela saraivada de saliva e baba espumante q saiu de sua boca.

Levantando 136kg de pura gordura, o Homem saiu ao encalço de seu inimigo. Armou suas mãos e com os olhos atentos de um predador faminto, ele era um radar americano em busca de mísseis comunistas. Ficou quieto. Esperando, olhando, observando e... pá!!! Nao acertou.
Como por obra do demonio, o maldito tinha escapado por entre seus dedos, o que aumentou ainda mais sua descabida fúria. Ele desaparecia no Ar como fumaça, incrível é o tal do pernilongo.
Cegado pela raiva, ele berrou e não iria fazer outra coisa sem antes matar o que aniquilava sua paz. Sua atenção redobrou e agora era questão de honra. "Aonde está? Aonde ESTÁ!??"

Finalmente o homem avistou o bandido. Correndo atrás do maldito, bateu o mindinho do pé esquerdo no sofá. Foi a gota dágua para sua racionalidade esvanecer. Mas o mosquito era mais inteligente, driblava-o com a perícia de um Ronaldinho Gaúcho, entortou-o e terminou a humilhação, flutuando sarcasticamente acima do sofá . Como um viking sedento por sangue, o Homem subiu no frágil móvel e com sua impulsão mal-sucedida na borda, forçou por demais a estrutura de madeira que se quebrou. Porém deu para ele executar um salto de dar inveja à Conan, o Bárbaro e com um solapão heróico e sonoro, abreviou a existência do mosquito.
Sua felicidade de ter posto fim ao desgraçado durou somente em seu breve voô.
Ao pousar, fraturou o pé direito que não aguentou tamanho peso e, caindo de mal-jeito, quebrou a clavícula e bateu a cabeça no chão. A dor lascinante que sentia foi transformada em berros, urros, mais xingamentos e choro.

Foi levado ao Hospital e quando voltou, o juiz apitava o fim do jogo e sua cerveja já tinha esquentado por demais.